O Canil da Guarda Civil Metropolitana (GCM) de Ribeirão Preto (SP) ganha reforços no quadro de integrantes com o nascimento de oito filhotes da raça pastor belga malinois. Pelos menos dois dos cães passarão por treinamento para que se encaixem na equipe.
Com um mês de vida, os filhotes passam por um processo de avaliação onde apenas os mais aptos são selecionados para integrar a equipe de faro, ou seja, atuar na busca por entorpecentes. Os demais devem ser doados a outras instituições de segurança pública.
De acordo com o o coordenador operacional da GCM, Mário Eduardo Luchetti, o treinamento dos animais acontece de forma progressiva por mais de um ano até que sejam de fato introduzidos nas operações. Segundo ele, o trabalho é visto como brincadeira para os cães.
"É uma espécie de troca, ele encontra o odor que a gente apresentou e ganha a brincadeira. Na cabeça dele, ele não está trabalhando", diz.
Ao longo desta reportagem, entenda mais detalhes sobre o treinamento dos cães seguindo os seguintes tópicos:
Como funciona o treinamento?
O primeiro passo para que os cães possam fazer parte da equipe do canil, em casos de filhotes, é cuidar da saúde dos animais. Estar com a vacinação e a vermifugação em dia é um dos requisitos base para que o treinamento possa ter continuidade.
Após essa etapa, os animais passam por um processo de seleção, onde os mais aptos são escolhidos para receber o treinamento de ambientação e socialização.
Por treinamento de ambientação e socialização entende-se o período em que os animais serão levados até variados locais e terão acesso a pessoas e animais de fora do canil.
"A gente vai fazendo essa rotina de apresentar lugares, levar em praças, na beira de rios, feiras livres, para ir apresentando tudo antes deles começarem o trabalho efetivamente. A ideia é apresentar todos os possíveis locais onde eles irão atuar para que quando de fato seja solicitado, eles não estranhem esses ambientes", explica Luchetti.
Com os processos de ambientação e socialização concluídos, os animais dão início à fase final do treinamento antes de irem para as ruas. Essa fase se resume em promover a associação entre o odor dos entorpecentes procurados com os brinquedos favoritos dos cães.
"É feita a associação para que quando ele localize o odor do THC da maconha e do cloridrato de cocaína, que são as drogas mais comuns, a maconha, a cocaína e o crack. A gente insere esses odores para eles e eles não têm contato, isso é uma lenda de que a gente vicia os cachorros, isso não acontece. O que a gente faz é essa conexão do brinquedo com o odor. Ele encontrando o odor é o gatilho para o brinquedo que ele gosta tanto", diz o coordenador.
Há uma raça específica para o treinamento?
De acordo com Luchetti, não há uma raça específica de cães que possam ser utilizados no canil. Ele aponta ainda que cães filhotes, mas também adultos podem se tornar aptos às funções exercidas pelas equipes.
Ainda segundo ele, a raça pastor belga malinois, maioria dentro do canil da cidade, costuma ser escolhida por sua flexibilidade na atuação em diferentes áreas, como busca por pessoas desaparecidas, proteção e também em processos terapêuticos.
"Qualquer raça pode ser trabalhada, porém a gente opta pelo pastor belga malinois pela disposição que ele tem. A gente costuma falar que o pastor é a Ferrari dos cães. É um cão para toda obra, pode ser usado para proteção, para apresentação, faro, busca de pessoas, para cão de terapia, então é um cão com muita flexibilidade", afirma.
Qual a rotina dos cães dentro do canil?
Alimentação regrada, adestramento e momento para brincadeiras. A rotina de um cão dentro do canil é definida pelo coordenador como 'totalmente diferente de um cão pet'.
É que dentro do canil, os animais são submetidos aos treinamentos de seus condutores, ou seja, profissionais técnicos em cães e adestradores que criam uma rotina de atividades que deve ser seguida pelo animal.
Essa rotina consiste em uma alimentação equilibrada, treinamentos físicos, adestramento e o momento em que o animal passa por brincadeiras visando o bom desempenho durante as operações.
"Na cabeça dele, ele não está trabalhando, ele está brincando e pode ser no lixão, na rodoviária, não importa, porque ele vai conhecer todos esses ambientes e saber que a qualquer hora a gente pode chamar ele para brincar", diz.
Esses cães são dóceis ou agressivos?
O coordenador operacional destaca que devido ao treinamento de socialização, os animais do canil apresentam um comportamento amigável em diversas situações.
Segundo Luchetti, é comum que os animais sejam levados para visitas em escolas, por exemplo. Nesses locais, o contato com crianças e adultos é estimulado. Entretanto, ele acredita que a palavra que melhor define os cães já treinados seja a 'controlados'.
Isso porque os animais oferecem à equipe uma estabilidade e concentração durante as operações que permite que comandos sejam dados e executados de forma precisa.
"A gente dá um comando e ele já fica atento sabendo que nessa hora ele tem que apoiar a equipe, tem que ficar alerta que a qualquer momento ele pode ser utilizado", aponta.
Como funciona a aposentadoria dos animais?
Não há uma idade definida para que os cães se aposentem, mas, de acordo com Luchetti, o processo costuma acontecer quando o animal atinge a faixa etária entre oito e nove anos de vida.
"A gente preza até pela justiça com o cão. Ele viveu a vida inteira dentro do canil, com essa rotina. Então o próprio condutor vê, quando ele já começa a apresentar sinais de cansaço nas buscas, procurando por sombra, o condutor já começa a perceber que já deu o que tinha que dar", diz.
Afastados dos trabalhos, os animais costumam ser adotados pelos próprios condutores. Em casos específicos em que o condutor não apresente condições de cuidar do cachorro, eles podem ainda ser adotados por demais integrantes do canil ou de outras corporações, ou ainda pelo público externo.
Fonte: G1.com